Poema: "A Divindade Somos Nós" - De Gabriele Lameira

Não é novidade o quanto a laicidade do Estado e liberdade religiosa são, na prática, condições bem utópicas aqui no Brasil. Desde os tempos coloniais, negros precisavam camuflar suas crenças para fugir da repressão católica e poder manter seus cultos e tradições. 
Atualmente, enquanto traficantes evangélicos obrigam Mãe de Santo a destruir o próprio terreiro em comunidade do Rio de Janeiro, moral, bons costumes, e família são usados como pretexto para as bancadas religiosas promoverem uma série de retrocessos que nos atingem diretamente enquanto minoria. E assim, a religião vai se tornando algo cada vez mais complexo e distante de nós...

A Divindade Somos Nós

É difícil crer em um Deus
Quando tanto se mente em nome dele.
Mas talvez a divindade 
Seja assim, como a palavra 
À se referir por "Ela", e não "Ele" 

E você,
Como a vê?
Um senhorzinho branco, barbado?
Com tanta misericórdia para com o racista engravatado 
Mas que abomina o viado? 
E na conjuntura, nesse enredo 
Errado
Foi Ele quem determinou que minha cor é a do pecado? 

O sincretismo que transforma 
No meio de tantas reformas 
A sua bancada vai agindo feito gangue 
E onde há quem transforme água em vinho,
Em desalinho,
Os homens desse Deus ainda querem o meu sangue 

Apocalipse pra nós é todo dia
Se parar pra reparar
Aqui onde o filho preto pródigo
Não tem chances de voltar 
O som dos tiros vai ecoar 
Mas o costume já o faz sutil
Anjo da guarda, pra me guardar
Tem que portar colete e fuzil 

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