Como é ser LGBT em uma aldeia?


Por Kamilla Rodrigues 

Discussão sobre gênero e homossexualidade foi um assunto que chamou a atenção pela novidade. Pela primeira vez a juventude indígena trouxe a questão LGBT em um Encontro Nacional de Estudantes Indígenas (Enei). O debate ocorreu em setembro de 2017.
Nós sabemos o quanto é difícil para quem é LGBT viver na nossa sociedade, mas para um indígena a dificuldade é triplicada.

Durante cinco dias, universitários indígenas de todo o país se reuniram com lideranças indígenas e grupos de discussão para debater pautas tradicionais como autonomia e a demarcação de terras, e trouxeram em mesa assuntos em que a juventude vivencia, como racismo, políticas de educação e pela primeira vez, o tema LGBT.

No Brasil inteiro existem vários indígenas que sofrem calados por falta de representatividade do movimento, existem vários indígenas LGBT's e essa pauta não é falada. O movimento é muito pautado ainda por questões de demarcação e ambiente, é óbvio que isso precisa ser discutido, mas será que não tem um espaço, nem por menor que seja para discutir sobre isso?


Por que falar desse tema? É necessário?

Mesmo entre as lideranças há resistência, nós precisamos lutar contra esse preconceito, e isso só será quebrado se for falado. Temos lideranças jovens nos movimentos estaduais, no movimento nacional, que são LGBTs e que não falam do assunto. O medo fala mais alto, dentro do movimento indígena é um tabu você falar sobre sexualidade.

Fora do Brasil há bastante pesquisa sobre LGBTs indígenas e aqui não acontece isso. Se fora do Brasil a questão de gênero e sexualidade é tão frequente nos movimentos indígenas, por que aqui ninguém fala isso?

Todos sabemos que, o próprio registro da história da sexualidade em geral, são discutidos e vistos por um discurso conservador da moralidade católica, a história da homossexualidade é completamente construída sob um discurso que repreende, que nega e que excluí a comunidade LGBT.
Então a gente sabe que isso não é de agora, a proibição veio de fora, nós precisamos pensar: Isso é realmente algo que eles pensam ou que foram obrigados a pensar?

O primeiro registro de homofobia no Brasil ocorreu em São Luís - Maranhão, em 1612. Seu nome era Tibira, ele foi perseguido pelos franceses por ser homossexual e foi colocado na boca de um canhão e explodido. A igreja ainda o usou como exemplo em sua aldeia, colocando medo em todos e alertando que se alguém também fosse homossexual, era esse o seu fim.

Indígenas gays não começaram a existir agora, sempre existiram e sempre foram calados, mortos, estuprados e é algo que precisa realmente ser discutido. Era rotina brancos matarem indígenas por qualquer motivo que seja, ainda mais por ser LGBT, e isso ainda continua. A colonização domina cada pedacinho da vida do colonizado, inclusive essa parte mais afetiva e precisamos quebrar essa corrente que os brancos colocaram em nós.

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