A beleza negra socialmente aceita.



                  Outro dia, antes de dormir, eu estava conversando com a minha irmã sobre o “padrão de beleza negra”. O “padrão de beleza negra” esta entre aspas, uma vez que o negro, de pele clara ou nao, nunca esteve dentro dos padrões socialmente imposto. Normalmente, aqui em casa, com a minha família, nós falamos sobre esses assuntos, e além do padrão de beleza a gente já falou muitas vezes sobre o negro que é mais bem aceito pela mídia. Eu particularmente não poderia reclamar tanto no que diz respeito a beleza, uma vez que no espaço que eu vivo, as pessoas do meu circulo social valorizam a minha estética. Mas infelizmente não é assim com todo mundo.
                  Assistindo aquela serie Dear White People, a gente consegue perceber pela abordagem feita entre as personagens Sam (Logan Browning) e Coco (Antoinette Robertson) as diferenças de tratamento existente entre pessoas negras de pele clara e pele escura.  Isso é uma questão histórica racial que da mesma maneira que afeta e afetou os EUA, de certo modo atinge o Brasil. Esse assunto eu vou abordar melhor em outro texto, pois é necessário maior um embasamento teórico pra tal heheheh. Enfim, o que eu gostaria de falar aqui, e que de certa maneira me chateia, é ver que até pra aceitação social negra, existe um padrão de negro que tem maior status. A mulher negra, por exemplo, que tem mais espaço midiático normalmente é aquela mulher negra “não tão negra assim”. Aquela mulher negra com os traços “mais finos”, com o corpo mais mignon com o cabelo cacheado e não crespo.
                  Uma certa vez isso chegou a me afetar, porque eu queria ser uma negra tipo a Tais Araújo. Uma mulher negra magrinha, uma mulher negra com o cabelo cacheado. E uma vez, eu lembro que quando eu tinha uns 15 anos, eu fui ao cabelereiro depois de ter tirado as tranças e queria fazer um relaxamento no cabelo, pois queria que ele ficasse igual ao da Sheron Menezes. (Hoje eu sei que esse detalhe é também uma técnica chamada “crochet braid”). Eu queria ter aqueles cachos que eu via na televisão. Afinal, elas eram mulheres negras com os cabelos naturais, claro que eu como mulher negra assim como elas ficaria digna se fizesse um tratamento pra “soltar meus cachos”. A questão é que eu não tenho cachos. Meu cabelo não é cacheado. Meu cabelo é crespo. E eu fiz o maldito relaxamento. E fiquei parecendo uma couve flor. Eu fiquei ridícula. Sai do salão chorando implorando pelas tranças da minha mãe de novo.
Uma vez, na faculdade uma pessoa me falou que eu era uma negra bonita. “diferente dessas negras assim com traços grossos”  que eu tinha os traços mais finos. O que seriam exatamente esses traços finos? Ela até chegou a dizer que eu era mais bonita que os intercambistas africanos.  Eu agradeci a tentativa dela de me elogiar, e fui me olhar no espelho procurando meus traços finos. Até hoje eu não achei, mas o baile segue. Mas o que eu entendi, claramente com aquele “elogio”, foi que, aos olhos dela eu era bonita, porque meus traços não eram tão negroides assim. Ou seja; sem perceber ela só confirmou que existe de fato um negro que socialmente é mais aceito de fato. Você é uma negra linda, desde que seu cabelo não seja tão crespo, desde que seu corpo não seja tão avantajado. E isso acontece, porque são as negras com os traços mais europeizados possíveis que a mídia vende. Eu não acho errado essas atrizes, negras estarem na mídia brasileira, pelo contrário, eu acho muito importante, pois elas tiveram uma participação muito grande na construção da minha autoestima e ainda têm. É um caminho ainda a ser percorrido, mas que ainda bem que já esta mudando. No entanto, esse assunto do “embranquecimento” do negro é uma questão cultural e histórica. Mas mesmo assim, eu acho necessário, representar os diversos tipos de beleza, não só negra, claro, existente no Brasil, e eu não falo só sobre tom de pele não, mas falo de corpo, de cabelo, enfim...
É difícil você ver uma mulher negra e gorda como protagonista de uma novela, ou filme, série. (Não consigo lembrar de nenhuma novela com protagonista gorda, por exemplo). Ou mesmo uma mulher branca e gorda como tal. Se é gorda tem que fazer aquele papel estereotipado do gordo que normalmente está relacionado ao humorístico, se é negra automaticamente tem que ser gostosa, pois é a negra sexualizada; a Globleza. E a gente, as pessoas com um todo, são mais do que isso.
Uma vez eu li na Cosmopolitan uma entrevista da Tais Araújo com aquela cantora Iza. Ao ler a reportagem, e ver tudo que a Iza falava eu me identifiquei em cada linha daquela entrevista, e aquilo me emocionou demais. Porque eu vejo a Iza, e é como se eu me visse. Ela me representa como um todo, e eu sei da importância que ela tem pra mim e pra outras pessoas, do reconhecimento e espaço que ela tem ganhado cada vez mais na mídia.
A representatividade é importante para TODAS as pessoas, principalmente quando estão naquela fase de adolescência. E continuo batendo na tecla de mulheres negras, porque é o que eu vivi, é o que eu vivo. Claro que existem outras vivências, outros tipos de representatividade, mas não sou capaz de falar de todas, uma vez que eu sei o meu lugar pra tal.


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