Por que o Rap não apoia Bolsonaro?
Primeiramente é porque temos uma história. Temos trajetórias de vida e de luta contra tudo o que Jair Bolsonaro representa. Sabemos que o Rap é historicamente a voz dos “excluídos” e a CNN negra como disse Public Enemy, sabemos que o movimento Hip Hop emerge dos guetos negros não apenas como uma manifestação cultural, mas também como uma manifestação politica que assume uma posição de luta contra o racismo e a desigualdade social. Tendo em vista isso, como podemos cogitar eleger ou ate mesmo apoiar um candidato racista e contra as minorias? Minorias essa, defendida pelo Rap?
Bolsonaro foi condenado a pagar 50 mil em indenização por danos morais a comunidades quilombolas e à população negra por seu comentário racista: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais" além de afirmar que Indígenas e Quilombolas atrapalham a economia do país, assim como afirmou na TV em rede nacional que seus filhos não correm risco de namorar negras ou virar gays porque foram 'muito bem educados'.
Mas para além do racismo explicito, de sua homofobia, machismo e seu ódio á minorias, é importante traçar um paralelo entre o que Bolsonaro defende e pensa com o que é defendido pelo Hip Hop, assim como o que passamos para chegar onde estamos agora, pois nossos passos vem de longe e é preciso reconhecer e dar valor a nossa base.
Bandido bom é bandido morto, esse é o lema de Bolsonaro, o mesmo que afirmou que a Polícia Militar deveria ter aproveitado para matar outros 889 presos da casa de detenção de São Paulo, se referindo ao massacre que matou 111 detentos em 2 de outubro de 1992, o famoso massacre do Carandiru.
O movimento Hip Hop vai na contra mão desse lema, dessa declaração e desse candidato, acreditando que o rap através de suas mensagens resgata o bandido é o que afirma o grupo Realidade Cruel na musica Demônio de Farda: Herói é o rap que resgata o crime. O Rap desde sempre trata da questão da prisão, do encarceramento, lá fora temos fortes exemplos como Tupac, Notorius Big e outros gangstas rappers e aqui no Brasil temos: Detentos do Rap e 509-E ambos os grupos de rap que surgiram no Carandiru após o massacre, e o famoso “Escadinha”.
• Detentos do Rap foi formado por quatro presidiários do pavilhão seis do Carandiru em 1996, em 1998 eles lançaram o cd “Apologia ao crime” gravado e lançado de dentro da prisão, as letras abordavam a realidade em que viviam, as dificuldades enfrentadas, o rap como forma de resgate, a violência, as drogas, a dificuldade do detento se reintegrar a sociedade. O grupo durante toda sua trajetória esteve ligado a vários projetos sociais nas comunidades, hoje após décadas de historia e sucesso Maurício DTS afirma que “Um trabalho de base para um futuro melhor começa nas escolas, e não nos presídios”, pois a cadeia não recupera ninguém.
• 509-E foi formado em 1999 por Dexter e Afro-X que já cantavam rap antes de irem presos, o nome do grupo vem da cela do pavilhão sete do Carandiru onde ficaram. O nome DeXter vem da influência de Malcolm X e Martin Luther King, assim como o do Afro-X.
Em 2000 é lançado o álbum Provérbios 13, disco esse que contem as famosas musicas “Oitavo Anjo” e “Saudades Mil”, assim como Detentos do Rap, 509-E abordava sem suas letras a violência do sistema prisional. “A gente não ta engrupido com a frase: Vai melhorar, 500 anos não temos motivos nenhum pra comemorar. Nosso Governo é tão justo que construiu mais presídios e menos escolas. Os pretos aqui, Afro-X e Dexter e uma par de manos que são considerados um perigo para sociedade tem uma missão: contrariar mais uma vez a estatística e a justiça cega, mostrando principalmente a si próprio que o ser humano é capaz de regenerar-se.” - 509-E em Carta à sociedade. Após sair da cadeia, Afro-X se tornou educador, lançou um livro e atua em projetos sociais, um que busca novos talentos para o rap, e outro que através da educação e da cultura apresenta outras perspectivas de vida para as crianças da periferia. Dexter continua firme e forte no Rap, cantando sobre nossas mazelas, incluindo o sistema carcerário. Atuou também em uma campanha pelo fim das revistas vexatórias nos presídios, e mantem o seu projeto “Como vai seu mundo” que realiza trabalhos dentro de presídios.
• Escadinha foi um ex traficante de drogas que adotou o rap como uma ferramenta para se expressar, no morro do Juramento era tido como um pessoa do bem, pois era implacável com estupradores, ladrões de ônibus e "quem quer que assaltasse trabalhador" da comunidade. Escadinha foi o compositor de 10, das 11 musicas que compõem a coletânea Brazil 1: Escadinha Fazendo Justiça com as Próprias Mãos, que conta com Mv Bill, Racionais, GOG, Consciência Humana entre outros.
Para além de Detentos, 509-E e Escadinha, outros grupos e artistas do rap abordam o sistema carcerário em suas letras: Racionais, Dina Di com o grupo Visão de Rua, que inclusive relata em sua letra o massacre do Carandiru e a situação das mulheres encarceradas. Muitos rappers afirmam que uma forma de sair do mundo do crime é seguir um caminho alternativo que o rap pode oferecer, por isso, para o RAP, Bandido bom é bandido recuperado, regenerado, e reintegrado na sociedade.
Bolsonaro propõe 'licença para matar' para policiais: “Se alguém disser que quero dar carta branca para policial militar matar, eu respondo: quero sim”. Além de defender que os policiais não sejam julgados por homicídio.
De acordo com dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 5.144 pessoas foram mortas em decorrência de intervenções de policiais no ano passado, isso representa 14 mortos por policiais por dia e eu sua maioria são jovens pretos da periferia, a polícia brasileira é a que mais mata no mundo e na maioria dos casos são homicídios de pessoas já rendidas, que já foram feridas ou alvejadas sem qualquer aviso prévio, é o que relata a Anistia Internacional. A proposta de Bolsonaro é deixar impunes policiais de casos assim também: Policial do Bope confunde furadeira com arma e mata morador do Andaraí, PMs confundem saco de pipoca com drogas e matam adolescente no Rj, Policia Militar confunde celular com arma e atira em jovem em MG, Policial confunde ferramenta com arma e mata dois moto taxistas no Rj. É deixar impune e dar carta branca para que policiais continuem a matar Claudias, Amarildos, Jovens de costa barros com 111 tiros.
Essas mortes fazem parte do genocídio do povo preto que é denunciado no Rap há anos, assim como a atuação da policia nas periferias:
“Eles estão nas ruas e muitos vão dizer que eles vieram pra nos proteger, mas se veem um suspeito não querem nem saber, primeiro atiram sem ter o porquê, e se você os denunciar uma bala na cabeça você vai levar. É por trás das câmeras da tv a policia diz nos proteger, mas a noite agem ao contrario, pessoas sendo vitimas desses policiais” - Policiais – De menos Crime
“O gueto sempre tem na frente o inimigo, a policia é racista mais do que ninguém, a favela entre o céu, o inferno, Jerusalém” – That’s my Way – Edi Rock
“O infrator tem que morrer gritando viva o choque, reintegração á sociedade não existe á Conte Lopez, a Rota mata mais que a AIDS e ainda ganha ibope” - Alô Polícia – Império Z/O
“Essa porra é um campo minado, PM aplica pena de morte com aval do Estado, quem tá certo? Quem tá errado? Só sei que o alvejado é sempre o favelado” Cypher Favela Vive 2
É muito comum encontrar letras de raps com críticas a polícia, por estarem retratando a realidade, é inevitável que os grupos não exponham o tratamento violento e desumano que é recebido, Racionais e MRN, por exemplo, foram presos durante um show em 1994, a alegação era que eles incitavam o crime e a violência, a prisão foi feita no momento em que Racionais cantava o Homem na estrada, na parte “Não confio na polícia raça do caralho”. Racionais também já foram ameaçados de morte pela polícia em shows. Facção Central teve seu clipe censurado e foi impedido algumas vezes de fazer shows, Emicida foi preso por cantar “Dedo na Ferida”, Big Richard foi preso por cantar “Homens da Lei”, em um show do Faces do Subúrbio policiais invadem batendo no publico, pelo grupo cantar a musica “homens fardados” e detém eles. Nos EUA temos os exemplos do NWA com “Fuck Tha Police“ e sua trajetória, KRS One com “Sound Of Da Police”, entre tantos outros.
Além das prisões temos também o assassinato do Dj Lah do grupo Conexão do Morro, morto por policiais em uma chacina supostamente por ter “gravado a execução de um pedreiro por PMs” Conexão do Morro também denunciava a policia em suas letras: “Tem rato na área mano corra perdão é coisa rara. Mesmo estando na sua não querem saber então saia. De uniforme cinza assassinos são os homens” – Click Clack Bang.
Bolsonaro também defende a Ditadura Militar e seus torturadores, como o Ustra, a ditadura durou ate 1985 e a cultura Hip Hop, chega ao Brasil entre 1983 e 1984. Nelson Triunfo, nosso Griot, é um dos pioneiros do Hip Hop no Brasil, ele começa a abrir rodas de dança na São Bento que é tido como o berço do movimento, e isso resultou em opressão e repressão policial, Nelson foi preso e apanhou varias vezes por DANÇAR na rua, pois o regime de ditadura militar matava e torturava todos que fossem contrario a ele, principalmente estudantes e artistas. Thaíde também foi preso varias vezes por dançar Break no centro da cidade, ele ressalta que “Ainda existe um regime disfarçado. A gente costumava dizer que ensaiava na rua e dançava na cadeia” por conta da rigidez dos militares. Não é segredo para ninguém que a Ditadura perseguiu o Hip Hop, assim como perseguiu os Bailes Blacks e todos os movimentos de resistência negra.
“Anos sessenta no Brasil e mais de quinhentos mil procurados, torturados, cassados e massacrados por motivos políticos, não é conto de fada, historinha de criança, é o demônio de farda promovendo a matança... Abaixo á Ditadura.” – Face da morte – Anos de Chumbo
Após a Ditadura Militar a violência policial, a violência do estado se intensificou nas periferias, as mortes e as perseguições aumentaram e o grupo Consciência Humana ganha destaque ao relatar e denunciar isso. Em 1991 eles lançam a musica “Tá na Hora” que retrata os assassinatos cometidos pelos policiais, especialmente pela ROTA (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar)
“Somos da periferia da zona leste de São Paulo e estamos acostumados a conviver com má notícia, assassinatos causados por gangues de polícia.” Na musica, eles citam também nomes militares bastante conhecidos por matarem nos bairros da periferia “E eu vou citar alguns nomes pra vocês acreditarem: Pé de Pato, Cabo Bruno, Conte Lopez passaram por lá, cheios de razões e calibres em punho, somente pra matar, somente pra matar” Conte Lopez era chefe da Rota e Cabo Bruno que fazia parte do “Esquadrão da Morte” – uma “organização” feita para perseguir e matar pessoas, ele foi apontado como responsável por pelo menos 50 assassinatos.
Após essa letra, o grupo Consciência Humana passou a ser perseguidos e ameaçados, Preto Aplik um dos integrantes do grupo chegou a ser atropelado pelos policiais, sobre isso ele fala: “Nós vivíamos correndo deles. Aí escrevi a primeira música que se chama Terror em São Paulo. A partir dessa daí já tava trazendo as ideias de quem convivia com esses caras na madrugada. Passei parte da minha vida na rua. Então eu bati de frente com eles. Então viemos escrevendo essa história. No meio dessa música pra lá, eu encontrei o Conte Lopes. Ele invadia os barracos, deu tiro na boca do meu tio. Foi aí que veio essa música Tá na hora.”
Mesmo após ameaças e perseguições o grupo continuou relatando esse terror em suas letras “Enquanto tiver injustiça e violência policial, a gente vai tá lá, tio. No dia que isso daí acabar, a gente para de falar disso” afirma WGI.
Preto Aplik e WGI já se posicionaram contra Bolsonaro, assim como Dexter, Criolo, Tássia Reis, Rappin Hood, entre outros rappers e grupos através do “Rap Pela Democracia” - https://rappelademocracia.com/
Parafraseando Racionais: Quem confia em polícia? O Hip Hop não é louco.
Esses são só alguns pontos pelo qual é impossível que o Rap apoie Bolsonaro, é inaceitável que alguém do movimento passe por cima de toda essa historia e trajetória e declare seu apoio e voto a um candidato que já se posicionou como nosso inimigo, que tem sua politica de segurança publica a nossa morte.
Para quem é do movimento e apoia ele, como diz Emicida “É necessário voltar ao começo, quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo”
Material de Apoio:
https://www.brasildefato.com.br/node/12640/
https://www.youtube.com/watch?v=eTeCTkaE2VE
Primeiramente é porque temos uma história. Temos trajetórias de vida e de luta contra tudo o que Jair Bolsonaro representa. Sabemos que o Rap é historicamente a voz dos “excluídos” e a CNN negra como disse Public Enemy, sabemos que o movimento Hip Hop emerge dos guetos negros não apenas como uma manifestação cultural, mas também como uma manifestação politica que assume uma posição de luta contra o racismo e a desigualdade social. Tendo em vista isso, como podemos cogitar eleger ou ate mesmo apoiar um candidato racista e contra as minorias? Minorias essa, defendida pelo Rap?
Bolsonaro foi condenado a pagar 50 mil em indenização por danos morais a comunidades quilombolas e à população negra por seu comentário racista: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais" além de afirmar que Indígenas e Quilombolas atrapalham a economia do país, assim como afirmou na TV em rede nacional que seus filhos não correm risco de namorar negras ou virar gays porque foram 'muito bem educados'.
Mas para além do racismo explicito, de sua homofobia, machismo e seu ódio á minorias, é importante traçar um paralelo entre o que Bolsonaro defende e pensa com o que é defendido pelo Hip Hop, assim como o que passamos para chegar onde estamos agora, pois nossos passos vem de longe e é preciso reconhecer e dar valor a nossa base.
Bandido bom é bandido morto, esse é o lema de Bolsonaro, o mesmo que afirmou que a Polícia Militar deveria ter aproveitado para matar outros 889 presos da casa de detenção de São Paulo, se referindo ao massacre que matou 111 detentos em 2 de outubro de 1992, o famoso massacre do Carandiru.
O movimento Hip Hop vai na contra mão desse lema, dessa declaração e desse candidato, acreditando que o rap através de suas mensagens resgata o bandido é o que afirma o grupo Realidade Cruel na musica Demônio de Farda: Herói é o rap que resgata o crime. O Rap desde sempre trata da questão da prisão, do encarceramento, lá fora temos fortes exemplos como Tupac, Notorius Big e outros gangstas rappers e aqui no Brasil temos: Detentos do Rap e 509-E ambos os grupos de rap que surgiram no Carandiru após o massacre, e o famoso “Escadinha”.
• Detentos do Rap foi formado por quatro presidiários do pavilhão seis do Carandiru em 1996, em 1998 eles lançaram o cd “Apologia ao crime” gravado e lançado de dentro da prisão, as letras abordavam a realidade em que viviam, as dificuldades enfrentadas, o rap como forma de resgate, a violência, as drogas, a dificuldade do detento se reintegrar a sociedade. O grupo durante toda sua trajetória esteve ligado a vários projetos sociais nas comunidades, hoje após décadas de historia e sucesso Maurício DTS afirma que “Um trabalho de base para um futuro melhor começa nas escolas, e não nos presídios”, pois a cadeia não recupera ninguém.
• 509-E foi formado em 1999 por Dexter e Afro-X que já cantavam rap antes de irem presos, o nome do grupo vem da cela do pavilhão sete do Carandiru onde ficaram. O nome DeXter vem da influência de Malcolm X e Martin Luther King, assim como o do Afro-X.
Em 2000 é lançado o álbum Provérbios 13, disco esse que contem as famosas musicas “Oitavo Anjo” e “Saudades Mil”, assim como Detentos do Rap, 509-E abordava sem suas letras a violência do sistema prisional. “A gente não ta engrupido com a frase: Vai melhorar, 500 anos não temos motivos nenhum pra comemorar. Nosso Governo é tão justo que construiu mais presídios e menos escolas. Os pretos aqui, Afro-X e Dexter e uma par de manos que são considerados um perigo para sociedade tem uma missão: contrariar mais uma vez a estatística e a justiça cega, mostrando principalmente a si próprio que o ser humano é capaz de regenerar-se.” - 509-E em Carta à sociedade. Após sair da cadeia, Afro-X se tornou educador, lançou um livro e atua em projetos sociais, um que busca novos talentos para o rap, e outro que através da educação e da cultura apresenta outras perspectivas de vida para as crianças da periferia. Dexter continua firme e forte no Rap, cantando sobre nossas mazelas, incluindo o sistema carcerário. Atuou também em uma campanha pelo fim das revistas vexatórias nos presídios, e mantem o seu projeto “Como vai seu mundo” que realiza trabalhos dentro de presídios.
• Escadinha foi um ex traficante de drogas que adotou o rap como uma ferramenta para se expressar, no morro do Juramento era tido como um pessoa do bem, pois era implacável com estupradores, ladrões de ônibus e "quem quer que assaltasse trabalhador" da comunidade. Escadinha foi o compositor de 10, das 11 musicas que compõem a coletânea Brazil 1: Escadinha Fazendo Justiça com as Próprias Mãos, que conta com Mv Bill, Racionais, GOG, Consciência Humana entre outros.
Para além de Detentos, 509-E e Escadinha, outros grupos e artistas do rap abordam o sistema carcerário em suas letras: Racionais, Dina Di com o grupo Visão de Rua, que inclusive relata em sua letra o massacre do Carandiru e a situação das mulheres encarceradas. Muitos rappers afirmam que uma forma de sair do mundo do crime é seguir um caminho alternativo que o rap pode oferecer, por isso, para o RAP, Bandido bom é bandido recuperado, regenerado, e reintegrado na sociedade.
Bolsonaro propõe 'licença para matar' para policiais: “Se alguém disser que quero dar carta branca para policial militar matar, eu respondo: quero sim”. Além de defender que os policiais não sejam julgados por homicídio.
De acordo com dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 5.144 pessoas foram mortas em decorrência de intervenções de policiais no ano passado, isso representa 14 mortos por policiais por dia e eu sua maioria são jovens pretos da periferia, a polícia brasileira é a que mais mata no mundo e na maioria dos casos são homicídios de pessoas já rendidas, que já foram feridas ou alvejadas sem qualquer aviso prévio, é o que relata a Anistia Internacional. A proposta de Bolsonaro é deixar impunes policiais de casos assim também: Policial do Bope confunde furadeira com arma e mata morador do Andaraí, PMs confundem saco de pipoca com drogas e matam adolescente no Rj, Policia Militar confunde celular com arma e atira em jovem em MG, Policial confunde ferramenta com arma e mata dois moto taxistas no Rj. É deixar impune e dar carta branca para que policiais continuem a matar Claudias, Amarildos, Jovens de costa barros com 111 tiros.
Essas mortes fazem parte do genocídio do povo preto que é denunciado no Rap há anos, assim como a atuação da policia nas periferias:
“Eles estão nas ruas e muitos vão dizer que eles vieram pra nos proteger, mas se veem um suspeito não querem nem saber, primeiro atiram sem ter o porquê, e se você os denunciar uma bala na cabeça você vai levar. É por trás das câmeras da tv a policia diz nos proteger, mas a noite agem ao contrario, pessoas sendo vitimas desses policiais” - Policiais – De menos Crime
“O gueto sempre tem na frente o inimigo, a policia é racista mais do que ninguém, a favela entre o céu, o inferno, Jerusalém” – That’s my Way – Edi Rock
“O infrator tem que morrer gritando viva o choque, reintegração á sociedade não existe á Conte Lopez, a Rota mata mais que a AIDS e ainda ganha ibope” - Alô Polícia – Império Z/O
“Essa porra é um campo minado, PM aplica pena de morte com aval do Estado, quem tá certo? Quem tá errado? Só sei que o alvejado é sempre o favelado” Cypher Favela Vive 2
É muito comum encontrar letras de raps com críticas a polícia, por estarem retratando a realidade, é inevitável que os grupos não exponham o tratamento violento e desumano que é recebido, Racionais e MRN, por exemplo, foram presos durante um show em 1994, a alegação era que eles incitavam o crime e a violência, a prisão foi feita no momento em que Racionais cantava o Homem na estrada, na parte “Não confio na polícia raça do caralho”. Racionais também já foram ameaçados de morte pela polícia em shows. Facção Central teve seu clipe censurado e foi impedido algumas vezes de fazer shows, Emicida foi preso por cantar “Dedo na Ferida”, Big Richard foi preso por cantar “Homens da Lei”, em um show do Faces do Subúrbio policiais invadem batendo no publico, pelo grupo cantar a musica “homens fardados” e detém eles. Nos EUA temos os exemplos do NWA com “Fuck Tha Police“ e sua trajetória, KRS One com “Sound Of Da Police”, entre tantos outros.
Além das prisões temos também o assassinato do Dj Lah do grupo Conexão do Morro, morto por policiais em uma chacina supostamente por ter “gravado a execução de um pedreiro por PMs” Conexão do Morro também denunciava a policia em suas letras: “Tem rato na área mano corra perdão é coisa rara. Mesmo estando na sua não querem saber então saia. De uniforme cinza assassinos são os homens” – Click Clack Bang.
Bolsonaro também defende a Ditadura Militar e seus torturadores, como o Ustra, a ditadura durou ate 1985 e a cultura Hip Hop, chega ao Brasil entre 1983 e 1984. Nelson Triunfo, nosso Griot, é um dos pioneiros do Hip Hop no Brasil, ele começa a abrir rodas de dança na São Bento que é tido como o berço do movimento, e isso resultou em opressão e repressão policial, Nelson foi preso e apanhou varias vezes por DANÇAR na rua, pois o regime de ditadura militar matava e torturava todos que fossem contrario a ele, principalmente estudantes e artistas. Thaíde também foi preso varias vezes por dançar Break no centro da cidade, ele ressalta que “Ainda existe um regime disfarçado. A gente costumava dizer que ensaiava na rua e dançava na cadeia” por conta da rigidez dos militares. Não é segredo para ninguém que a Ditadura perseguiu o Hip Hop, assim como perseguiu os Bailes Blacks e todos os movimentos de resistência negra.
“Anos sessenta no Brasil e mais de quinhentos mil procurados, torturados, cassados e massacrados por motivos políticos, não é conto de fada, historinha de criança, é o demônio de farda promovendo a matança... Abaixo á Ditadura.” – Face da morte – Anos de Chumbo
Após a Ditadura Militar a violência policial, a violência do estado se intensificou nas periferias, as mortes e as perseguições aumentaram e o grupo Consciência Humana ganha destaque ao relatar e denunciar isso. Em 1991 eles lançam a musica “Tá na Hora” que retrata os assassinatos cometidos pelos policiais, especialmente pela ROTA (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar)
“Somos da periferia da zona leste de São Paulo e estamos acostumados a conviver com má notícia, assassinatos causados por gangues de polícia.” Na musica, eles citam também nomes militares bastante conhecidos por matarem nos bairros da periferia “E eu vou citar alguns nomes pra vocês acreditarem: Pé de Pato, Cabo Bruno, Conte Lopez passaram por lá, cheios de razões e calibres em punho, somente pra matar, somente pra matar” Conte Lopez era chefe da Rota e Cabo Bruno que fazia parte do “Esquadrão da Morte” – uma “organização” feita para perseguir e matar pessoas, ele foi apontado como responsável por pelo menos 50 assassinatos.
Após essa letra, o grupo Consciência Humana passou a ser perseguidos e ameaçados, Preto Aplik um dos integrantes do grupo chegou a ser atropelado pelos policiais, sobre isso ele fala: “Nós vivíamos correndo deles. Aí escrevi a primeira música que se chama Terror em São Paulo. A partir dessa daí já tava trazendo as ideias de quem convivia com esses caras na madrugada. Passei parte da minha vida na rua. Então eu bati de frente com eles. Então viemos escrevendo essa história. No meio dessa música pra lá, eu encontrei o Conte Lopes. Ele invadia os barracos, deu tiro na boca do meu tio. Foi aí que veio essa música Tá na hora.”
Mesmo após ameaças e perseguições o grupo continuou relatando esse terror em suas letras “Enquanto tiver injustiça e violência policial, a gente vai tá lá, tio. No dia que isso daí acabar, a gente para de falar disso” afirma WGI.
Preto Aplik e WGI já se posicionaram contra Bolsonaro, assim como Dexter, Criolo, Tássia Reis, Rappin Hood, entre outros rappers e grupos através do “Rap Pela Democracia” - https://rappelademocracia.com/
Parafraseando Racionais: Quem confia em polícia? O Hip Hop não é louco.
Esses são só alguns pontos pelo qual é impossível que o Rap apoie Bolsonaro, é inaceitável que alguém do movimento passe por cima de toda essa historia e trajetória e declare seu apoio e voto a um candidato que já se posicionou como nosso inimigo, que tem sua politica de segurança publica a nossa morte.
Para quem é do movimento e apoia ele, como diz Emicida “É necessário voltar ao começo, quando os caminhos se confundem, é necessário voltar ao começo”
Material de Apoio:
https://www.brasildefato.com.br/node/12640/
https://www.youtube.com/watch?v=eTeCTkaE2VE