MOLEQUE, por Isabella Souza
Pulou do ventre
Nasceu correndo
Aprendeu sozinho
O barulho dos fogos ele já conhecia
Virou aviãozinho, mais um da periferia
Ia para praia e via de tudo
Madames brancas, criança, poodle
Vitrines, carros, e o governo surdo
Se perguntava como chegar ali
A mãe respondia que era estudando
Foi para escola, iguais a ele mais 15
Tudo com 13 mas aparentando 20
“Neguinho” e favelado, para ele topo era ser rei do tráfico
O caminho era um só, o crime
Saiu da escola, tudo parecia chato
Matava aula e a mãe sem saco
Pois trabalhava no lado sul do mapa
Olhando os filhos de uma burguesa babaca
Fazia ela limpar de quatro o chão da sala
Ele sabendo daquela situação
Não tendo nada dentro de casa
Sua mãe sem dinheiro nem para o pão
Começou a pensar várias fita errada
Pegou o primeiro ônibus que viu Zona Sul.
Entrou por trás não tinha um tostão
Sem lenço e sem documento
Só com bermuda e um terço de cordão
Lá atrás ele e mais 6
Fizeram algazarra da zn até o posto 9
Há quem diga que ele só queria esquecer toda aquela situação
Mas não foi bem isso quando escutou da boca de um playboy bora sair daqui,
só tem pobre.
Ah! mas ele levantou, na fúria de um corredor, igual quando era menino
Pegou iphone, câmera, óculos, não tinha noção de valor, mas era possível ver
o ódio reprimindo
Os outros 6 fizeram uma limpa
Era só algazarra e confusão
PM cercando de um lado, guardinhas na contramão
Ele era preto
13 anos
Sem camisa
Descalço
Com um celular na mão
Não corria, voava
Foi o suficiente para uma bala
E um corpo no chão
Corre, corre
Gritaria
Sirenes
Quem diria?
Ele só queira um pouco de atenção
Cresceu marginal
Virou bandido bom, morto.
No meio da pista
Em frente ao Sheraton
Não houve ambulância
Foi direito para o necrotério
Chegando de lá
Perguntaram para saber
De onde vem esse moleque seu polícia?
De onde os pivete chora e o cristo não vê.
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Texto colaborativo enviado pela poetisa Isabella Souza
Instagram: @poetis4
Medium: https://medium.com/@poetisa
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