Poema: "Pelo direito de ter um pai" - De Gabriele Lameira

Dia dos pais sempre me causou um certo desconforto. É a data da festa na escola em que a gente não sabia o que fazer, e nem pra quem entregar os desenhos na folha colorida.
No fim das contas, minha mãe ficava com os desenhos e com todo o resto...
Falamos de ancestralidade enquanto cortam a nossa pela raiz quando muitos de nós não tivemos sequer o direito de ter um pai presente e, consequentemente, nossas mães não tiveram o direito de serem só mães.
Seguimos lutando pelo direito de termos um pai e pelo direito de nossas mães serem mães e só.

PELO DIREITO DE TER UM PAI

Passam tantos dias dos pais que até nos perdemos no tempo E nos achamos na angústia de não ter vivido um sequer momento Com o cara cujo o nome
Nem sempre consta no documento. A escola faz festa Mas ninguém festeja mais Prato de salgado ou doce E o amargo de saber que ele não vai. Quantos inferno visitei sem nem ter saído da minha cidade? O quanto de dor abafei com o aumento da idade? Abandono, perda e destrutividade Conforme o ódio ocupa espaço Nós nem sente mais saudade. A semelhança no sangue Além do vermelho O rosto que as fotos espalham E os traços dele no espelho. Histórias que me contam Jeito que reconheço Mas arde parecer tanto Com alguém que eu nem conheço. Somos o filho feio do ditado: Aquele que não tem pai. Moleque mal criado, X da equação do Estado da qual todos sabem o resultado Teremos filhos também sem pais Se era um plano do sistema, foi muito bem executado. Aqui tem quem tem pai preso, tem quem tem pai viciado. Filho de pai sumido aqui também tem um bocado. Na real, pai pra nós é luxo E mãe trabalha dobrado.

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