Revistas, representatividade e autoestima
Tenho a honra de ser uma das colaboradoras do Black Panther e inicio essa jornada com um texto que tem uma grande importância pra mim, que é um dos assuntos que eu mais tenho discutido ultimamente, que é sobre a ausência de representatividade negra nas revistas femininas.
Representatividade. Essa é uma das palavras que mais tem feito parte da minha vida ultimamente.
Quando eu era
adolescente, isso nem faz tanto tempo assim, eu lia essas revistas que eram
destinadas a garotas da minha idade, e eu não me sentia representada. Claro que
com 14 anos eu não tinha essa noção. Eu não tinha claro que faltava alguma
coisa para mim. A sorte é que eu sempre tive uma família muito bem engajada nas
causas raciais e sociais, e sempre foram importantes nesse processo de
construção de autoestima. Mas mesmo assim, não posso dizer que eu sempre fui
muito bem resolvida comigo mesma. Mas por conta da minha família consegui não
ter um auto-ódio tão grande.
Voltando às
revistas adolescentes. Na época, como uma boa leitora e assinante dessas não me
encontrava. E ainda assim, não conseguia parar de ler, porque apesar de sentir
de uma maneira indireta (ou direta?) Que aquilo não era “pra mim”, eu
continuava lendo. E, às vezes, numa tentativa meio frustrada, tentava ser igual
as meninas dos editoriais. Tudo isso, junto a várias outras coisas que eu
passei durante esse período, só aumentaram a minha insegurança. Eu fico me
perguntando se não existe uma editora ou diretora de revista que não pensa que
“ei, nós podemos ter algumas leitoras negras, devemos escrever para elas
também”? Porque sinceramente, não é possível, uma vez que, às vezes, rola uma
exclusão descarada.
Reportagens do
tipo “Como ter o liso perfeito” “como
arrasar naquela make para balada” “como atrair o boy/crush que você esta de
olho”. Em reportagens como essas que pareciam inocentes, e só mais um
“tutorial” as revistas deixavam bem claro que não era para mim que elas
escreviam. Eu, mulher negra 4C nunca vou ter o tal do “liso perfeito”. As makes
que eles ensinavam eram só maquiagens que ficavam boas em meninas brancas. Ou
seja, não era pro meu bico. Em relação ao “crush”, eu me lembro de uma vez que
uma das dicas “para atrair o boy” envolvia jogar o cabelo, “amarrar o cabelo
com o lápis” pois “os garotos amam esse jeito despojado”. Hahahahahhahaha um
lápis nunca vai amarrar meu cabelo sem contar quando o editorial não vinha com
depoimentos sobre o tipo de menina que os caras curtiam, e bem, eu nunca me
encaixava nas definições. Em pequenas reportagens, reportagens inocentes, minha
insegurança aumentava. Minha autoestima era destruída pelo menos um pouquinho.
Eu já perdi a
conta de quantas vezes em comentários, ou em e-mails direcionados às diretoras ou
editoras de algumas revistas eu já reivindiquei o direito de me sentir
representada, e já perdi a conta de quantas vezes eu, nós meninas/mulheres
negras, fomos ignoradas. Ainda assim, acredito que tenho o direito de me sentir
representada. Representatividade importa pra caramba, porque eu enquanto mulher
negra sei como foi importante e ainda significa muito para mim. E vou continuar lutando por isso.
Por: Aretha Soyombo
Por: Aretha Soyombo
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