Poesia: "Pátria armada"; por Chal Enigma
por MATHEUS DE ARAUJO
"Água mole, pedra dura, tanto bate até que" se revolta por estar cansado de levar porrada. Cai quantas vezes for, mas se levanta pra revidar na moeda que tiver ao seu alcance, coisa que nem moeda compra. O pai...ís que não assumiu deu margem pra qualquer um achar que aqui é terra sem lei e acabou virando, mas sem lei só entre os nossos. Somos regidos pela lei do pai que não é nem um pouco gentil e quem nos acolhe é a mãe gentil que grita no nosso corpo e fala "levanta e luta".
Chal traz as consequências do sistema que todos os dias tenta te abortar e você não vê. O mesmo aborto que já abortou milhões, mas nunca nos apagou.
Mostrando que no Rio 40 graus tem que ter peito frito sem gelar e escrevendo um futuro melhor que Maurício de Souza não desenha, com a palavra Chal Enigma:
"Pátria armada
Políticos batem na pátria
Eu venho pique Maria da Penha
Quero um futuro melhor
Que Maurício de Souza não desenha
Desdenha
Quando soltar fogos não é São João
Aqui é fogo no pneu
E não fogo na lenha
No morro tem muito campeão
Mas não deixam eles ser Niemeyer
Só Beira-mar ou Lampião
O verde é esperança da nação
Mas por causa de um verde no bolso
Eu vi vermelho no chão
Aqui o sol nem brilha mais
Nossa bandeira não tem amarelo
Sem "din" pros Nike
Nós bota prego no chinelo
Aqui a pista é salgada
As crianças não tem grana pra machimelo
As pele tem cor de caramelo
Depois que fizerem escola venham falar
De camaro amarelo
E o céu azul escureceu
A ordem e progresso desapareceu
Quando o sonho das crianças faleceu
Os menor amadureceu
Ou melhor, endureceu
E o ódio só cresceu
Ainda preservo o amor nobre
No coração de um plebeu
Eis-me aqui um filho teu
És mãe gentil
Filho abortado do sistema
Abordado pela civil
E você nem viu
O gado marcado não tem nome
Tem números
Filhos não registrados
Que o pai...ís não assumiu
E não passa de um civil
Um rapaz comum
Se é famoso tem choro e protesto
Mas favelado é menos um
Onde a falta de educação reina
E o proibidão impera
Nesse império
Onde fazem marchinha de carnaval
Eu faço marcha de guerra
No microfone só sniper patriota
Que mira e não erra
Pique Policarpo Quaresma
No Rio 40 graus
Peito frio
Mas nós não gela
Vim tremer a mente da nação
Não só a bunda e a perna
Respeita!
Mais um poeta da favela!"
Sinta a palavra a flor da pele com o Chal declamando na Edição Especial do Slam Resistência + Grito Filmes, que rolou na Praça Mauá (RJ) e o mesmo foi campeão:
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