ARTE MARGINAL: O GRITO DE UM POVO SILENCIADO.
A Arte Marginal tem início na literatura no começo da década de cinquenta, quando, inspirado por diversas personagens fora da lei, anjos desalmados, profetas mundanos e realidades subalternas, o escritor Jack Kerouac escreveu o livro que ficou conhecido no Brasil como "Pé na Estrada" (On the road, originalmente), que logo se tornou ícone para àqueles que, assim como Jack, se sentiam inspirados por realidades controversas às que eram tratadas nos demais movimentos literários de época. Logo o conceito se espalhou pela música e pela fotografia, e daí se iniciou a geração Beat.
A contracultura marginal enegreceu-se no âmbito musical: a expressão de dores na forma da poesia, o deboche do "maldito" em um sentido muito mais pleno da palavra permeava a vivência de muitos artistas negros, o que fazia que tal arte se desprendesse do campo teórico e de inspiração e viesse à tona como uma forma de expressar sentimentos e, uma marginalidade de fato vivida. É importante não se prender a visão eurocentrada do assunto, porque a arte marginal está muito mais ligada a uma produção artístico-poético de pessoas que, de fato, vivem e compreendem todas as mazelas da literatura de margem à cultura periférica.
Durante diversos séculos a poesia de escória foi a única forma de produção de pessoas pretas, que ganhava destaque na literatura e na música pela forma excepcional pela qual ela era - e continua sendo - produzida. A verdade é que a cultura do embranquecimento também atua nessa área e quase sempre somos moldados de forma a desvalorizar esse tipo de arte.
No Brasil, diversos artistas merecem destaque, como Paulo Lins, Sérgio Vaz, Gog, e diversos outros rappers, poetas e autores que além de disseminarem a cultura marginal e mantê-la viva, ainda assumem o papel de militantes pela causa e acima de tudo, por um povo historicamente silenciado. Um importante destaque na literatura e no cinema é a obra Cidade de Deus, que escancara pro mundo inteiro que existe talento dentro das periferias, dentro de uma contracultura que exalta a realidade de um povo oprimido de forma nua e mais crua possível.
A verdade é que não podemos nos limitar a entender apenas o conceito artístico na sua face caucasiana. O Brasil é muito mais além do que Augusto Cury, Paulo Coelho ou Clarice Lispector. Existem muitos dos nossos na cena, produzindo conteúdo de qualidade e é nossa responsabilidade valorizar e dar visibilidade a esses trabalhos e essas obras.
A arte marginal transcende o conceito de arte e nos representa enquanto povo. A arte marginal representa nossos ancestrais, tal qual suas vivências e dores. A poesia de escória nos dá voz e nos tira desse silenciamento milenar. Não nos deixemos cair nos malabarismos ideológicos de teorias que as demonizam, inferiorizam. É um compromisso do povo preto manter a arte marginal viva.
Salve à margem!
Icaro Silva.
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