Nosso amor é preto e se chama Dengo




Deixando de lado a ideia de amor romântico, sendo esse de idealização, posse e principalmente de criação da imagem de uma pessoa inalcançável, temos a necessidade de ao menos saber como é a ideia de "amor" africano.  "Amor" em Afrika é coletivo e parte da filosofia UBUNTU : eu sou porque nós somos. O amor africano nada mais é que de cooperação, onde o "nós" possui mais importância que o "eu".

Diferente do amor branco, eurocêntrico, presente até na literatura - onde fica visível a idealização de uma pessoa inalcançável -, que dizia da existência de uma alma gêmea que apareceria na sua vida e te completaria em todos os sentidos possíveis, o amor preto acredita na construção de um relacionamento, onde todos os lados envolvidos tem de estar dispostos a assumirem as consequências de seus atos sabendo que esse não afeta apenas a si próprio.



A palavra "dengo" significa "carinho", "agrado", "meiguice", e vem da palavra "ndéngo" do dialeto Quicongo. Na época da escravidão, e principalmente no período pós abolicionista, o dengo foi o que nos permaneceu vivos, foi o que nos deu esperanças para continuar mesmo que com a violência contra nossos corpos. O amor que conhecemos hoje não nos cabe porque ele não nos pertence, foi algo imposto, o que resulta em frustrações de não pertencimento e de não realização. Nossa afetividade é demonstrada de milhares de formas e nossos relacionamentos não conseguem ser postos dentro de um formato branco de como ele deve ser e do que deve ser feito dentro dele.

Dengo é o cuidado da mãe com sua filha ao trançar seu cabelo, é a preocupação da mulher com seu marido com o mesmo na rua até tarde, é o cuidado entre mulheres com seus sentimentos, é o "quando chegar em casa, liga" que falamos ao nos despedir. Dengo é o abraço que se dá quando, no samba improvisado de final de ano, toca "A Amizade" ou "Sorriso Negro", é a energia que se sente quando se está entre seus semelhantes, é cantar as musicas de infância na mesa do bar. O dengo nada mais é que a brecha de suportar o mundo nas costas, é o resgate da humanidade e do carinho.

Nosso dengo ainda está presente, nosso dengo é diário e nas pequenas coisas.

Ass: Pryscila

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